o meu corpo cresceu mãe, os meus pés já nã0 cabem nos sapatos do vestido de domingo e as minhas mãos não passam na rede para roubar as cerejas que o vizinho deixa cair maduras no quintal. o meu corpo cresceu mãe, e com ele a minha alma e a vontade de a esticar. nasceram-me asas nos ombros estreitos, quase prontas para me levar. já não tenho laços no cabelo, nem bonecas no regaço. agora compro o jornal e vou ao teatro quando fica escuro e entra em casa a gente de trabalho. sonho do meu tamanho e já visto o L em todas as lojas de roupa da cidade. tenho de partir, está tudo apertado aqui. o meu corpo cresceu mãe e o teu colo é o único espaço que continua à minha medida, o único espaço onde não posso ficar.
Saturday, June 23, 2007
Tuesday, June 19, 2007
Thursday, June 14, 2007
falta-me a calçada de lisboa...subir à graça no 28 e, no miradouro da senhora do monte, engolir a cidade de um só trago. perdi os laços do meu cabelo pendurada nos beirais da mouraria. as andorinhas, em voo picado, roubaram-me as minhas fitas. correm descalços para a boleia do eléctrico, os putos pobres da madragoa. salta nos decotes roliços o peito das varinas, e as canastras da sardinha boa. boa a sardinha, boa esta gente que passa com flores e fruta no regaço. e são mulheres de trabalho, pernas largas, braços firmes. balançam o corpo na praça e gritam pregões à menina que passa no seu vestidinho fino. hoje é dia de feira e a cidade madruga azafamada. hoje é dia de feira, estica-se o corpo no mercado. pega na cesta, traz a carteira e dá-me o teu braço porque, hoje é dia de feira e eu quero o meu corpo esticado.
Wednesday, June 13, 2007
Saturday, June 9, 2007
demorei a mão nos teus ombros plátano, cheiravas a fruta da época e trazias sol de verão na boca por dizer. subiste as escadas de um só trago criança sôfrega, pousaste a cesta na entrada e as maças rolaram na sala de jantar. vieste cair-me no colo e rasgaste um grito que me fez corar. abraça-me, pediste tu. estreitei-te em mim. ainda somos? somos. por quanto tempo? enquanto infinitamente for possível. tenho sono. também. e comeste uma maça antes de deitar.
Friday, June 8, 2007
hoje não te esperei no portão da casa e tu não chegaste à hora costumada. hoje não cheirava a flores a entrada e os teus bolsos traziam pouco mais que nada. hoje não nos demorámos, e quando passaste, enleaste nos dedos a fita que prende a minha trança encarnada. não voltaste atrás, levaste-a presa a ti. soltou-se o cabelo, desfez-se o penteado de dia feriado e sorriram-me os lábios felizes por te cruzar. não voltei a ver-te.
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