Thursday, September 27, 2007

de hoje em diante poderia ser assim, eu a desmanchar e a refazer as tranças, tu a perder as horas e os minutos que te faltassem para apanhar o autocarro. e era possível a vida com esta forma, encostada à roupa molhada dos outros, aos corpos anónimos que carregam sacos de supermercado como quem carrega um filho. poderíamos escolher uma esquina de lisboa para nos encontrarmos ao fim da tarde e, se nos aprazesse, tocar concertina e dançar solidó. ou talvez abrir todos os portões de todas as casas do bairro da tua prima, aquela que faz arroz doce em pratos tão pequenos que lhe roubo sempre dois. ali os muros guardam vidas mornas e tristes. nós não, nós vamos a rasgar um sorriso que já não cabe dentro de mim e de ti, que nos pendura nas janelas do mundo e nos afasta de pertencer ao lugar de ontem.
sabes que horas são? já desfiz dez vezes a mesma trança e tu continuas aí. corre. despacha-te. oiço subir a rua o teu autocarro.