Monday, April 3, 2017

Deixei que as horas morassem em mim infinitamente, talvez porque me faltava espaço em torno, ou porque o dentro se confundia com o fora e os dias com os meses, e os anos com as horas. O tempo comeu parte da nossa existência e tu abandonaste a casa, onde a minha solidão habitava. Agora a sala tem apenas os sofás das tias velhas e os sons antigos que já não dizem nada.
mas já não me fazes falta.
Sentei-me sempre do lado mais frio do meu corpo.

Wednesday, March 29, 2017

Vivemos juntos numa fotografia do tempo, onde o salitre mora nas paredes da casa por fabricar. fogem  palavras secas da tua boca fechada de expressão e na nossa pele há marcas passadas de dias felizes. em cima da mesa da sala ficou a fruteira velha de damascos ásperos na língua e eu já não sou quem era. o jardim da casa sussurra os nossos nomes tantas vezes quantas são precisas para deixarem de fazer sentido e deixarmos de existir, enquanto os corpos, envelhecidos, desaparecem no ar pesado de um dia cinza claro.
faltamos a todos os encontros marcados, mesmo aos que não faziam sentido nenhum faltar - bilhetes caducados no fundo da mala guardada em gaveta fechada.