abriu o peito de par em par e deixou sair as suas humanas vontades. e agora, quem o conduzirá ao outro lado do rio a molhar os pés?
Monday, November 17, 2008
Sunday, August 31, 2008
ontem, quando me deitei, descobri que tenho dois pés esquerdos. não compreendo. como é que depois de me levantar e deitar tantas vezes, de comprar tantos sapatos e tantas meias, depois de tantos anos de correrias, só ontem me dei conta! estranho. e agora, que vou eu fazer com dois pés esquerdos? sim, que depois de nos apercebermos das coisas, já nada pode ser como dantes. um horror. e eu, que nem sequer sei escrever com a esquerda.
Thursday, August 28, 2008
Tuesday, August 26, 2008
Monday, June 16, 2008
sentou-se uma vida inteira do outro lado da estrada. sorria quando chovia e quando fazia sol, quando estava triste por fora e por dentro, quando não tinha mais nada para gritar. trazia nos olhos o mundo inteiro de sofreguidão mordido, e das suas mãos saíam sonhos ao desbarato, porque, na verdade, não sabia fazer mais nada. sonhos e gargalhadas, altas e em surdina que só por si eram ouvidas. eram suas. só suas, e com todo o direito a sê-lo. corria quando queria e para onde queria, gritava do alto do seu eu, que o peito era largo e nele cabiam todos os dias inteiros. não tinha nunca amanhã, o homem do outro lado da estrada.
Thursday, May 29, 2008
Sunday, April 13, 2008
Tuesday, April 1, 2008
desmanchou o corpo vestido e sentou-se no canto da casa vazia, gritou baixinho o cansaço que trazia nos ombros e nas mãos por abrir. raspou o chão de madeira macia com a ponta dos dedos frios e encostou nele a cara de olhos fechados. estava profundamente triste, de uma tristeza sóbria como aquela das narrativas poéticas nas estantes perdidas da casa.
Wednesday, March 5, 2008
e agora, onde estás? perguntou-lhe em surdina, como quando se conta um segredo. és feliz? talvez. respondeu ela em cautela, de olhos esbugalhados. não sei se sou já, neste instante da pergunta. não sei se é assim ser feliz. queria que não, que fosse maior e que cheirasse a hortelã acabada de colher ou rosmaninho que encontrava nas gavetas da avó, onde as camisas eram brancas e de linho engomado. queria que crescesse dentro do estômago sempre que fica apertado, que estalasse debaixo das unhas e nas solas dos meus sapatos. queria que soubesse o meu nome em todas as línguas e o declinasse em latim ou em grego, para parecer de uma época distante e soar a clássico lido num vão de escada iluminado por um candeeiro de pé alto. queria que me puxasse os cabelos e me roubasse as meias dos pés descalços, que subisse a um banco alto e gritasse que sim a quem passa. queria que fosse verdade a hora da chegada ao lado de lá da cidade. talvez.
Monday, February 25, 2008
quando esticas a pele ao sol do chão da sala, sentes o calor da terra? abre o cabelo por dentro dos ombros e acomoda o corpo num tempo indeterminado. já cresceste isso tudo?! quanto tempo passou desde que te encontraste? ... e agora deixas cair os braços a um abandono esperado no canto da casa, largas o grito que trazes nas mãos, exausto, incontrolado. já não te sei aí, já não tens tempo para as minhas tranças, nem para os vestidos bordados. prende os olhos a este tempo, deixa os teus dias na entrada e senta-te aqui ao meu lado, conta-me estórias do longe que fazem a alma esticar.
Wednesday, February 13, 2008
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