Tinha, quase sempre, uma vontade incontrolável de falar, de contar tudo o que sentia.Um dia, à hora de estar só, nasceram-lhe umas asas de ombros largos que lhe esticaram o corpo em direcção ao cimo e a alma disse -lhe que partisse.
Despiu-se dos homens, não levou consigo nada. Sabia, desde muito cedo, que seria assim, que do mundo da terra não teria nada para carregar. Tinha escolhido cuidadosamente o momento, a hora do dia mais quente, aquela que lhe sorria quando era pequeno e brincava. Sabia. Desde sempre. E sempre era já muito tempo... Quando se desprendeu, o vento rasgou-lhe a pele e entrou-lhe no peito com uma força tal, que quase deixou de respirar! Mas estava feliz, tinha à sua frente o dia claro e o outro lado do mundo por conquistar, aquele das suas vontades.